29 de maio de 2014

A História Esquecida

Já era tarde quando cheguei. Estava escuro e frio. Do lado de fora da pequena estalagem não se ouvia nada, não se via ninguém, apenas uma leve brisa a brincar nas folhas das árvores. Entrei. Aqui era quente, acolhedor, o cheiro das comidas e do hidromel invadiam as narinas acordando a fome. Uma jovem moça me conduziu a uma mesa. Pedi a especialidade da casa e uma caneca de hidromel, precisava clarear as ideias.

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Muitas coisas aconteceram nesta semana, algumas se quer deveria ter presenciado, mero acidente de percurso; outras foram por minha culpa e desleixo; algumas outras por causa de Nimb, O Senhor do Caos. Acontece que no final da semana passada minha vila ainda existia, hoje nem se quer posso dizer que houve uma vila no local, se quer posso atestar a presença humana. Tudo aconteceu tão rápido. Os lordes não tiveram perdão. Em questão de minutos toda uma vila desaparecia perante os meus olhos, queria poder ajudar-los... isto ainda me pesava aos ombros.

***

A comida chegara, o cheiro era bom, senti o estomago roncar, seria bom ter uma refeição normal em fim. Enquanto me empanturrava, comecei a observar as pessoas que estavam na taverna, que por sinal era pequena e mal iluminada. Ao balcão, havia apenas o dono, um homem forte, alto, rosto largo, de seus 45 anos, vestindo roupas simples e já um tanto gastas. Estava sempre ocupado em limpar as canecas de hidromel, por mais que estivessem limpas, calmamente ia passando o seu pano, esfregando as canecas, uma a uma, num serviço sem fim. Vez ou outra chegava ao balcão a jovem que me recepcionou, parecia ser a filha dele, bonita, vistosa, no auge da sua beleza, suas roupas eram tão simples quanto as do pai, porem, talvez pela simplicidade, ressaltavam as belezas do seu corpo. Devia possuir no máximo seus 18 anos.Todos na taverna admiravam sua beleza, e para conseguir alguma atenção, e assim quem sabe trocar uma ideia com ela, estavam sempre fazendo pedidos até gastarem seus últimos centavos.

Como eu havia mencionado a taverna era pequena, apenas umas mesas 7 no total, sendo que 4 estavam vazias, duas possuíam grupos de aventureiros, provavelmente desfrutando da ultima noite normal entes de saírem em busca de fama, gloria e riqueza. A ultima mesa contudo me chamou a atenção, ela ficava em um canto muito mal iluminado quase não se dava para ver quem estava sentado, ainda mais se este estivesse usando roupas escuras, como era o caso. Por um estante, em quanto olhava a mesa, cheguei a achar que era de fato uma sombra, que não havia nada ali, contudo quando a filha do dono se aproximou da mesa consegui ver que algo se mexera nas sombras, lentamente fui baixando minha mão até alcançar a adaga que meu pai me dera pouco antes da grande tragedia da minha vida.

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Era uma manhã de sol, e eu já havia me levantado para me aprontar para ajudar meu pai em seu oficio, a carpintaria, quando na rua surgiu um reboliço, uma mistura de vozes e sons, como se estivesse passando um grande bardo pela cidade, o que de fato ocorria de 2 a 3 vezes ao ano. Não era bardo nem sequer uma companhia de aventureiros, mas sim uma legião de minotauros, todos grandes, fortes e sobretudo mal cheirosos. O primeiro deles empunhava um estandarte adornado com um enorme par de chifres, atras dele vinham em marcha cerca de outros 13 minotauros, sendo que 12 marchavam enfileirados, formando 3 colunas, estes empunhavam lanças e escudos reforçados, alguns com marcas de batalhas travadas, suas armaduras eram gastas revelando a distancia entre sua partida e sua terra natal. O ultimo minotauro possuía a mais brilhante armadura, um elmo reluzente, um conjunto de espadas nas costas, na cintura um machado, seus braços eram adornados por braçadeiras igualmente reluzentes. Ele empunhava um escudo na mão esquerda e na direita uma lança.

O pelotão seguia em direção a praça da vila e todos os abitantes estavam temerosos, e mal conseguiam esconder sua ansiedade. Eu estava como eles. Não é comum a presença de minotauros em uma região tão longe de Tapista. Me aprontei para ver o que ocorria, desci as escadas, mas quando estava passando pela porta de casa, minha mãe chamou:

- Hezio, aonde você pensa que vai? Por acaso esqueceu que tem de ajudar o seu pai hoje?- Falava em quanto balançava uma colher de pau melada com alguma comida que estava fazendo - Vá ajudar o seu pai!

Dito isso, eu fui. Mas não parava de pensar no pelotão de minotauros, e no motivo de eles estarem na cidade, foi pensando nisso até chegar perto da oficina que ficava em um beco atrás de casa, foi quando ouvi uma voz  aguda dizendo " ... excelente porte físico esse seu Sr. Alletrope, de fato você será de grande contribuição para a nossa causa!", em seguida meu pai tentou argumentar dizendo que possuía esposa e filhos e ouviu como resposta "Ótimo, eles podem ir com o senhor,  se bem que você não suportaria ver o que pode ocorrer com sua bela esposa, e seu amado filho" cedendo a chantagem aplicada, meu pai exclamou:

- Eu vou com vocês, mas não toquem na minha família! Eles são tudo que possuo, não posso perde-los.- Grilhões de mitral ressoaram, eram suas algemas decretando sua prisão.- Vocês podem até me matar, mas não façam nada com a minha família.

-Muito interessante, realmente, muito interessante!- exclamava a vós aguda- Você deve amar mesmo a sua família Sr. Alletrope! Não se preocupe tanto, seu castigo não será a morte! Ele será muito pior, tudo, é claro, em nome da ciência!- em quanto falava sua vós parecia estar cada vez mais perto, saindo do beco e vindo na minha direção!

Precisava me esconder, não queria estar ali, não era para estar ali, isto não deveria estar acontecendo. A conversa se aproximava, mais e mais, e assim que virassem a próxima esquina me avistariam, tenho que me esconder, mas onde? Não havia lugar no beco onde pudesse me esconder, sem falar que era estreito demais para isso!

***

Estava quase sacando a adaga do meu pai, quando percebi que a filha do dono da taverna se dirigia a minha mesa, não falou nada, apenas deixou cair um pedaço de papel em quanto fingia anotar algum pedido. Feito isso se dirigiu ao balcão, e falou algo para seu pai, ambos se retiraram para a cozinha. Algo ia ocorrer, senti o perigo se aproximar, e sem pensar ou agir, tomei o papel e em quanto tentava ler, uma adaga cruzou o a estalagem atingindo uma parede atras de mim. Rapidamente me joguei no chão, não imaginava que iriam me alcançar tão rápido...

***

Meus perseguidores? Bem digamos que eles não eram nada humanos... mas pra Artron isso não importava muito, boa parte deste continente era povoada por feras fantásticas, a outra parte refletia o caos e a ordem das civilizações. Porem eles vinham a mando dos Lordes, e eles queriam a unica alma, que restou da minha vila. A unica alma que podia devolver-los para o seu plano original, para o seu mundo onde sua existência se confunde com o próprio existir.

***

Eram cinco deles, criaturas estranhas, aberrações, meio que insetos gigantes, do tamanho de uma pessoa... estavam sendo liderados por um homem de porte médio vestindo uma armadura vermelha com o rosto coberto por um cranio negro. estavam na entrada da estalagem, em estantes os aventureiros que ali estavam sacaram suas armas e partiram para sima das criaturas... pobres almas... em menos de dois minutos de combate os mais sortudos estavam dilacerados pelo chão, e os azarados estavam gritando de agonia como se sua mente estivessem sendo torturados, o inferno havia me alcançado,  e os gritos eram a confirmação disso. O cavaleiro rubro veio na minha direção, vagarosamente sacou uma de suas espadas, a lamina parecia congelar o ar ao seu redor, cristalizando a umidade do ar, temi pela minha vida...